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Rotas do Vento

Tibet, Nepal: Através dos Himalaias na Rota de Lhasa, Nuno Saramago

Entrevista em Maio 2009 ao jornal Diário Económico

– quais foram as motivações que o levaram a fazer a viagem?
Há bastante tempo que tinha curiosidade quanto ao Tibet, como julgo acontecer a muitas pessoas nos países ditos ocidentais onde vão chegando notícias que sugerem um “mundo diferente”. Em 2007 consegui a necessária disponibilidade profissional e pessoal para me ausentar durante 2 semanas. O facto de viajar com alguma frequência utilizando transportes e hotéis convencionais, onde independentemente do destino as memórias que ficam são muito semelhantes, criou a vontade de “ir pelo próprio pé”. A ideia de “agora ou nunca” relativamente ao Tibet ditou a decisão final.

– já fazia viagens destas anteriormente? Quais é que já fez e porquê?
De “aventura” organizadas por operadores nacionais, sub-contratando guias locais, não. A minha experiência era até então de viagens organizadas por grupos de amigos a destinos como por exemplo Austrália, para mergulho e outras atividades ao ar livre, Islândia, para todo-o-terreno, ou Brasil, simplesmente para praia.

– qual foi a sensação que teve quando chegou ao Tibete? Era o que esperava?
Tentei sempre não criar expectativas pois acredito ser a melhor forma de valorizar ao máximo a experiência final. Antes do Tibet passámos alguns dias no Nepal, onde se deu realmente a adaptação à região, e quando finalmente chegámos ao Tibet o que mais me impressionou foi a vastidão das paisagens sendo o que mais recordo a afabilidade das pessoas. Sei que é lugar-comum mencionar a simpatia de quem encontramos em locais remotos, mas as pessoas que encontrei nesta viagem superaram largamente tudo o que pudesse esperar em termos de trato, franqueza e sinceridade!

– que dificuldades se encontram numa viagem como esta? Coisas básicas como a comida, a higiene, etc, como funciona tudo?
Em locais tão remotos a maioria dos produtos utilizados no dia a dia tornam-se escassos, medicamentos comuns que levariam umas horas a obter em caso de necessidade são raros. Aqui o suporte do operador foi essencial na preparação e aconselhamento dos produtos a levar na bagagem. Convém também estar preparado para abdicar um pouco do conforto e conveniência do ambiente urbano, uma casa de banho ou um duche quente não são fáceis de encontrar em certos sítios…

– quantos dias de viagem? Quantas pessoas foram nessa viagem? E como era o grupo (novos, velhos, já eram viajantes habituados a estas andanças)
A viagem durou no total cerca de 15 dias. Viajámos num grupo de 7 pessoas, 3 homens e 4 mulheres, com idades talvez entre os 30 a 50 anos. Na minha perspetiva esta disparidade de perfis e experiências acabou por funcionar bem e mesmo as pessoas que nunca tinham feito este tipo de viagem acabaram por desfrutar e ultrapassar um ou outro pequeno incómodo.

– lembra-se de algum episódio engraçado ou insólito que tenha acontecido durante a viagem?
Talvez dois. O primeiro na fronteira entre o Nepal e o Tibet onde por breves minutos chegámos depois da hora de fecho da alfândega, o que nos obrigou a confiar os 7 passaportes às autoridades e a passar aì a noite em Zhangmu. A estadia prolongou-se ainda pelo dia seguinte pois a estrada de montanha que se seguia estava condicionada na altura, só abrindo algumas horas por dia. O caricato da situação esteve na reação do guarda aos pedidos para facilitar a passagem. ao que ia respondendo que os carimbos já estavam fechados à chave, o computador já se encontrava desligado, entre outras argumentações. Após alguma insistência da nossa parte, para tolerar os breves minutos de atraso, estendeu-nos de volta os passaportes com um sorriso e convidou-nos a regressar ao Nepal, acrescentando que ainda éramos livres para o fazer… O segundo, que ilustra diferença mas ao mesmo tempo a facilidade de aproximação, teve lugar num mosteiro onde após breve troca de impressões com um monge, talvez na casa dos 30, sobre as lamparinas de manteiga de iaque, este se desmanchou a rir pelo facto de existirem pelos nos meus braços ao mesmo tempo que os puxava…

Nuno Saramago, Maio de 2009