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Rotas do Vento

Vietname: Da Baía Halong ao Rio do Perfume – Margarida R

O Vietname do lado de cá lembra a guerra, 30 anos de guerra, desigual, injusta e macabra, que vimos em filmes de cineastas inspirados como o Coppola ou o Cimino.
No mapa, o Vietname tem a forma de um dragão , um bom sinal no oriente e fica onde foi a Cochinchina.
Com cerca de 80 milhões de habitantes, o Vietname é um país de impérios, comunista e com uma cultura e uma história.

A viagem de 2 semanas começou em Hanoi, seguindo depois para e Hué, Hoi An, My Son, vale Mai Chau e Halong. Para o percurso contávamos com um guia vietnamita o Hai e nós seis portugueses ávidos.

As primeiras imagens do Vietname, trazem à memória o massacre tantas vezes visto nos filmes e é isso que vemos também nos bares de Hanoi. Entre um copo e uma gargalhada turistas de todos os cantos do mundo, e muitos norte americanos, olham as imagens em grandes écrans, como se de desporto se tratasse. A guerra passou a ser a grande atracção turística do Vietname. E isso era impressionante também porque, na altura, no ano 2000 ainda não assistíamos entre refeições e em directo a decapitações de pessoas.
O primeiro contacto é, por isso, chocante, mas, à medida que o espanto vai crescendo, a guerra vai-se, como se de um fantasma se tratasse e só se vê um dos países mais bonitos do mundo.

Hanoi
O teatro de Hanoi, o Kim Dong Theatre levantou-se no final, numa grande ovação de gente encantada de histórias, contadas há séculos, sobre a vida na água dos camponeses.
Os artistas manipulam os diversos sketches, usando a água como actriz principal. Jogos de luz e fogo lançado por belíssimos dragões e bailarinas, com música soberba tocada ao vivo, fizeram um espectáculo único.
As marionetas sobre a água de Thang Long, mesmo para aqueles que já tinham tido a sorte de conhecer o trabalho destes artistas vietnamitas, são uma caixinha de água e de surpresas para o coração.
Á saída do teatro, o lago Hoàn Kiêm, no centro da cidade reflectia imensos balões de cores e alegria. A festa inundava as ruas de gente e saltimbancos de tal jeito que, apesar de peixes fora de água, fomos apanhados naquele jogo de emoção e felicidade.
As ruas de Hanoi, à noite, deixam de ter referenciais, tudo muda porque tudo fecha. De dia, as portas estão escancaradas e as pessoas parece que vivem na rua, cada porta aberta mostra um mundo de coisas curiosas, onde se perdem os sentidos.
Assim, perdemos o caminho para casa, e encontramos o Jazz Clube, onde nos acomodamos, com bom jazz, fiéis ouvintes e bons bebedores, entre cerveja e alguma comida para aliviar as emoções. A orquestra formada por raparigas encheu a casa até bem tarde.

Em cima de uma bicicleta veloz, deslizamos no sentido do escoamento, pelo ritmo da cidade inundado por muitas bicicletas, motos, rikchós . Em cima da bicicleta, tudo se equilibra: caixas de ovos, mobiliário, filhos, baguetes de pão . As senhoras protegem-se com longas luvas e lenços na cara.
Em Hanoi, visitámos o mausoléu de Ho Chi Minh e o Pagode de Um Pilar (séc.XIV), o templo da Literatura (sec XI) dedicado a Confúcio, a primeira universidade do Vietnam, o pagode Tran Quoc, o museu de Etnologia e calcorreámos muitas das 36 ruas no bairro antigo que correspondem a 36 profissões tradicionais.

HUÉ
Fizemos o caminho ate Hue de comboio, 12 horas em direcção à capital imperial do país, desde 1802 até 1945.
Fomos de bicicleta, mais uma vez, visitar a cidadela imperial e a cidade proibida púrpura, um complexo arquitectónico classificado como património mundial pela UNESCO, infelizmente muito foi destruído pela guerra. Parámos depois no mercado Dong Ba onde apreciámos um mundo de coisas empoleiradas até ao tecto, comprámos luvas compridas de mãos pequenas e sentámo-nos numa barraquinha de bebidas com biscoitos e pipocas oferecidas .
O Rio de Perfume, atravessa Hué e o seu nome deve-se provavelmente ao aroma das resinas e das ramagens de pinheiros e de coníferas arrastados pela brisa ao longo do vale. Pelo rio acima, fomos descobrindo a cidade e as vidas de muitas famílias que vivem nos barcos acostados uns aos outros. Visitámos o pagode Thien Mu e os mausoléus dos imperadores Tu Duc e Kai Dinh. O imperador Tu Duc, construiu um espaço tão agradável, que depois de terminado, foi habitá-lo com as suas 104 esposas e concubinas.
Na margem norte, a cidadela estende-se por trezentos hectares, onde se contam mais de duzentos edifícios entre palácios, templos, pavilhões de lazer e de cultura, edifícios administrativos e militares.
A sul de Hué, nas colinas de densa vegetação, encontram-se dispersos mausoléus dos vários imperadores da dinastia Nguyen (1802-1945).
Hué é um esplêndido exemplo da arte e da cultura vietnamita. Há locais faustosos com abundante vegetação, terreiros de cerimónias onde nada falta esculpido em pedra – elefantes cavalos, soldados, mandarins -, lagos cheios de Lótus, de beleza e de silêncio que nos convidam à meditação e nos inundam de paz.

Hoi An
A viagem, agora pelo mar da china, continua a surpreender-nos. Apreciamos aldeias de pescadores, arrozais e longas praias.
Hoi An, a sul de Hué, no centro do Vietname, é uma vila cheia de charme, que sobreviveu à destruição da guerra. Foi um dos mais importantes portos do sudoeste asiático até ao século XVIII. Aqui chegaram os portugueses em 1516.
Depois de um grande jantar no restaurante do porto, alugámos um barco e fomos deslizando pelo silêncio escuro da noite, entrecortado pelos sons dos habitantes dos barcos. Nessa noite, cantámos na rua com outras pessoas felizes.

Norte do Vietnam
Agora a viagem é pelos sentidos e é difícil contar. Chegámos à região da montanhas, em Mai Chau, depois de percorrermos intermináveis arrozais, ficámos alojados em casa do chefe da aldeia.
Durante a noite de pirilampos, no vale, sentiu-se o barulho do arroz a crescer naquela água, onde se reflecte o céu limpo cheio de estrelas.
Fizemos 3 dias a caminhar, em florestas sub-tropicais, tomámos banho nas cascatas, vimos serpentes verdes, macacos, patos, muitos meninos e o verde da água o verde da terra por todo o lado. Dormimos e comemos naquelas casas de chão de bambú com a gente de lá. Gente de silêncio e sorrisos, gente de paz e coisas de difícil adivinhação. Gente que lê, carrega árvores, e arranja galinhas á luz das tochas, gente que sobreviveu aos pesadelos das várias guerras que ganhou as guerras, gente do tio Hô, de estatura franzina e muita força.
Entre bandeiras vermelhas, caixinhas de música, fotografias do Marx, mártires da guerra, altares de budas, a selecção de futebol portuguesa, cachimbos de água, bebés ao colo dos pais e uma cozinheira que cantava “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga” sons misteriosos da selva e o cocoro do galo à hora certa, vivemos momentos mágicos.

Halong:
Surpreende obra de Deus, a baia de Halong é sublime. São três mil ilhéus naquela constelação de promontórios onde Cat Ba surge como a atracção principal. Ilha de pescadores aqui encontra-se tudo dentro de água, restaurantes com peixes que se tiram da água directamente para o tacho, viveiros de ostras, vidas de famílias em casas flutuantes, aguardentes de cobra, e até karaoke.
Mergulhamos na água verde esmeralda de kayak, e acampamos numa ilha só nossa, iluminada pela maior lua. Pela noite uma chuva abundante fez-nos pensar o pior.
Tivemos a ousadia de visitar a única ilhota habitada além de Cat Ba. É o sitio dos deuses onde ninguém vai, descobrimos por isso outro paraíso cheio de borboletas e crianças com tranças.
Visitamos grutas e praias desertas, e confirmamos que aquele lugar é a oitava maravilha do mundo.
Quando for ao Vietname, não se esqueça que mais do que a liberdade, pode ganhar asas.

Texto: Margarida Rodrigues -Viagem ao Vietname com as Rotas do vento
Fotografia : Filipe Fuente (preto e branco) e Margarida Rodrigues.
Consultas ao guia do Vietname da Routard e textos sobre a viagem de Gonçalo Velez na página da internet (www.rotasvento.com)