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Rotas do Vento

Vale de Khumbu e Campo Base do Everest

Nepal: Vale de Khumbu e Campo Base do Everest – Pedro Almeida

CRÓNICA de uma viagem – NEPAL
2005-03-20 a 2005-04-12
Pedro Virgílio de Almeida
20Março
Partida de Lisboa para a aventura. Aquele nervoso miudinho da antecipação das sensações que virão
aumenta durante a viagem que parece uma eternidade. Escala de 5 horas em Amesterdão (houve quem
tenha ido jantar à cidade) e escala nos emiratos árabes, em Sharjah (mesmo ao lado do Dubai). Antes desta
última escala sobrevoamos umas cordilheiras cheias de neve, no Iémen (isto é para confirmar num mapa,
porque não estou certo que seja Iémen)
21Março
Finalmente Kathmandu! Uma volta rápida pela cidade, à noite, para sentir o lugar. Soube a pouco, muita
coisa fechada. Vamos dormir porque amanhã é que é mesmo a grande partida para Lukla. Fez-me lembrar
Foz de Iguaçu, a mesma sujidade, o mesmo ar de gente pobre e andrajosa.
22Março
Chuva! Começa mal a manhã. Logo o burburinho sobre não conseguirmos chegar a Lukla por causa do mau
tempo. Mas afinal tudo corre bem, depois de muito apalpanço (questões de segurança, afinal o Nepal está
quase há 3 meses em estado de emergência por causa dos maoistas e por ordem do rei que resolveu
dissolver o parlamento) até entrarmos na avioneta, lá começamos a rolar na pista, levantamos. Devo
confessar que me agradou o espetáculo de relâmpagos que se via nas nuvens ao longe. Subitamente a
avioneta começa a voltar para o aeroporto, aterrou! Era mesmo verdade, o mau tempo em Lukla não nos
deixava continuar. Grande espera, o espetáculo dos relâmpagos já não tinha tanta piada como no início.
Meio da manhã lá veio nova possibilidade de tentarmos chegar a Lukla. Grande confusão porque as malas já
tinham sido tiradas, e como são levadas num reboque, atreladas ao autocarro que nos leva à avioneta,
ainda nós é que tivemos de gritar a avisar que estávamos a andar sem o reboque atrelado. Lá iam ficando
as malas pelo caminho! Entramos no avião, começamos a rolar na pista, mas desta vez nem levantamos!
Para trás outra vez! Agora era uma avaria, coisa pouca, porque nem sequer saímos da pista. Esperámos ali
mesmo enquanto arranjavam o aparelho. Outra vez a rolar na pista, desta vez sim, levantamos e não há
surpresas.
Trinta minutos aterradores, muita adrenalina, a maneira como a avioneta dança no ar é muito pouco
tranquilizante. Só melhora a sensação quando se começam a ver os Himalaias brancos à nossa esquerda, aí
a memória do que nos leva ali volta ao de cima e atenua o medo. Mas dura pouco, ao avistarmos a pista de
Lukla, a dor no estômago ataca outra vez! É muito difícil acreditar que alguma coisa aterre ali! Mas, tudo
corre bem e Lukla finalmente!
Esperei que os sacos de Alfama conseguissem manter a roupa seca na mochila.
A partir daqui é tudo a pé, não há carros, bicicletas, motas, nada motorizado, tudo se desloca à força do
homem ou dos animais. Tudo são carreiros pela montanha, em que tudo é carregado nas costas dos homens
ou dos animais. Começámos também nós a pé, mas só até ao lodge mais próximo onde paramos para
almoço e escolha dos carregadores e dos animais que nos irão acompanhar no percurso; aliviando-nos da
carga mais pesada. 15 Kg é o limite que as nossas bagagens devem ter. Grande azáfama de pessoas e de
distribuição das cargas, amarrá-las e depois colocá-las em cima dos animais. Logo começamos a ficar
chocados com aquele trabalho de escravatura, vêem-se crianças e velhos a pegar nos pesos mais incríveis e
a abalarem com aquilo pendurado na cabeça trilho fora.
Destacam-se logo as feições de uma rapariga no meio da confusão, muito bonita. Todos acharam que seria
demais se a víssemos também a carregar a parte pesada da expedição. Percebemos que nos iria
acompanhar, é a filha de um dos guias, mas não vai para transportar as cargas pesadas. Foi logo alvo de
muita curiosidade e ao longo do percurso todos arranjaram maneira de lhe tirar uma fotografia. Era a Dali.
Após o almoço e bagagens amarradas, pessoal da expedição escolhido, arrancamos. 3 Horas de caminho até
Phakding onde pernoitaremos. Era um lodge muito bom, à beira do rio, com uma casa de banho comum
para dois quartos. Água quente para banhos, uma coisa que depressa descobrimos que era um verdadeiro
luxo por aquelas bandas!
Serviram-nos um jantar excelente. Sopa de espinafres, chicken curry, quori (um molho de vegetais –
batata, cenoura e feijão verde) e arroz branco para regar com Daal (um molho tradicional de lentilhas que
serve para dar paladar ao arroz)
Passei a noite bastante mal. Foi aqui que travei conhecimento com o Paulo. Ele acabou por ter de ficar
comigo no mesmo quarto, o lodge estava cheio (a confusão de não haver aviões em Lukla tinha provocado
excesso de ocupação nos lodges, as pessoas que eram para partir não tinham conseguido sair) e não havia
possibilidade de lhe dar um quarto só para ele. Era uma da manhã e eu já estava acordado, completamente
sem sono. Sempre a ir à casa de banho. Atribuí isto ao jet leg, ainda era cedo para pensar em mal de
montanha, afinal estávamos a uns meros 2700m, nada de diferente duma semana de esqui passada numa
estância qualquer dos Pirinéus….

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