As Botas para Marcha
A escolha de umas botas nunca é uma tarefa fácil. Abstraindo de aspectos estéticos, deparamo-nos com a dificuldade de avaliar diversos tipos de materiais, de construção, de solas e de desenho. Os preços também variam muito, o que deixa o leigo bastante confuso.
As modernas botas para marcha, como tal, existem há menos de duas décadas. Até aí era usada uma versão ligeira das botas de alpinismo, em couro e com sola de borracha sulcada. Mas hoje, por um fenómeno de moda, fabrica-se uma enorme diversidade de modelos, muitos dos quais não têm aptidão para resistir a um tratamento árduo na montanha.
Assim, os atributos a procurar numas botas novas para uma utilização todo-o-terreno resumem-se a:
a) Conforto. A sua forma interior deve estar bem adaptada ao pé. Há marcas que fabricam modelos diferentes seja para pés estreitos ou para pés largos. O tamanho da bota deve ser um ou meio número superior ao normal pois deve considerar que após umas horas de marcha o pé incha. É suficiente usá-las com um par de meias espessas. Todos temos um pé maior que o outro, por isso concentre-se no seu pé grande quando estiver a ensaiá-las. Quando apertar os atacadores, os calcanhares devem manter-se imóveis atrás — se chutar com força contra uma parede, não deve sentir os dedos a embaterem no extremo da bota. Quanto maior for o número de presilhas (crochets) para os atacadores, melhor você conseguirá ajustar a bota ao seu pé. As botas tradicionais têm, em média, cinco de cada lado na zona do pé (incluindo um par estrangulador), mais três pares a subirem o tornozelo. Não aperte demasiado os atacadores pois pode diminuir a circulação nos pés — se sentir os pés gelados no Inverno experimente afrouxar os atacadores.
De igual forma, os movimentos transversais do pé devem ser mínimos. Todo o atrito repetido ao longo de várias horas poderá provocar bolhas, sobretudo se ainda não estiverem formados calos nessasDelta do Parnaíba zonas do pé.
Uma maior espessura da sola de borracha oferece um melhor isolamento do frio que é transmitido pelo solo, além de oferecer um melhor amortecimento ao choque.
O couro ainda é o material nobre por excelência, e as boas botas são construídas sem costuras laterais, à excepção do acabamento no calcanhar e no contacto com a sola.
Há modelos cujo interior é revestido de uma película impermeável, o que encarece sobremaneira as botas. Em nossa opinião, essa película é dispensável. Se chover ou se a erva estiver encharcada, as calças acabarão por escorrer.
b) Protecção. A bota deve subir acima do tornozelo para o proteger de entorses. As botas de couro com 2-3mm de espessura oferecem uma boa rigidez geral, não só ao nível do tornozelo como para todo o pé, com destaque para os dedos. Hoje é mais vulgar encontrarem-se materiais sintéticos e sucedâneos, mais baratos do que o couro. Esse tipo de rigidez é um factor importante. Não é raro necessitarmos de dar largos saltos ou de descermos declives íngremes com consequências que muitas vezes não controlamos bem. Uma espessura equivalente também oferece um bom isolamento do frio.
c) Segurança. No decurso de uma escalada nos anos trinta, o alpinista italiano Vitale Bramani assistiu à queda e consequente morte de um amigo quando atravessavam, desencordados, uma zona de rocha fácil, mas molhada e escorregadia. Muito perturbado, Vitale jurou que algo tinha de fazer para se evitarem acidentes desnecessários deste tipo. Pouco depois inventou uma sola de borracha que ainda hoje é a referência mundial e que equipa todas as botas de alpinismo e a maioria das botas de marcha: a sola Vibram. Para testar e comparar o grau de aderência de solas diferentes, faça pressão com a sua unha a 45º sobre a superfície da borracha lisa.
Alem de boa aderência, uma sola deve possuir um certo grau de rigidez, sobretudo transversal, para que, em descidas íngremes, possa travar com as arestas em técnica idêntica à do ski na neve. Uma rigidez adequada também lhe oferece maior conforto por não sujeitar o pé a todas as irregularidades do solo.
d) Resistência e durabilidade. Estes são factores difíceis de avaliar, mesmo para um especialista. O conhecimento das marcas é muito relevante, sobretudo as suas experiência e tradição a fabricar botas de alpinismo, um domínio muito mais exigente. Os materiais empregues contam muito: compare diferenteCarregadores no Caminho Inca, Perus modelos e privilegie a resistência e a rigidez. Tenha em mente de que as suas botas poderão ter de sofrer um tratamento implacável.
Quanto maior for o número de costuras, menos impermeável a bota será e mais pontos fracos haverá. Um facto muito irritante é saltar uma presilha, o que é irreversível.
As botas tradicionais em couro representaram sempre um bom investimento por que possuem as melhores características do que se referiu acima, alem de durarem dezenas de anos. Por isso, foi sempre vulgar a troca das solas quando estas se gastam. Actualmente, muitos dos fabricantes aplica às botas de marcha um tipo de solas que não é substituível. Conhecemos pessoas que ao fim de um ano de actividade gastaram as suas solas, embora o restante material se conservasse como novo!
Conclusão. Quando decidir comprar umas botas visite varias lojas da especialidade e compare múltiplos modelos. Faça todo o tipo de perguntas aos vendedores e exija respostas concretas. Se não souberem responder-lhe de forma credível vá comprar a outro sítio. Depois participe em várias caminhadas, observe os modelos que as outras pessoas usam e faça-lhes perguntas. Avalie a frequência com que pensa utilizar as botas. Disso dependerá também a grandeza do seu investimento.
Depois disto, já terá uma opinião formada.
Após comprar umas botas tenha em mente que elas necessitam de se moldar ao pé.. É possível que nas primeiras duas ou três saídas elas lhe causem bolhas. Por isso, não esqueça que antes de partir para uma viagem deve testá-las. Dado que o atrito se dá normalmente no calcanhar, poderá colar um adesivo largo ao longo dessa zona (e/ou noutras) durante o período de adaptação. Caso lhe apareça uma bolha, nunca arranque a pele. Faça-lhe um pequeno corte para extrair o liquido e manter a bolha vazia. A pele da bolha secará protegendo ao mesmo tempo a pele nova que lhe dará lugar.
Torre de Vigia Yambulhakang, Tibet
Outro contratempo que lhe poderá surgir no decurso de uma viagem é encharcar o interior das botas após uma chuva. A solução é usá-las com um a dois pares de meias de lã (de polipropileno será melhor) e esticá-las o mais possível fora da bota para que a evaporação por capilaridade se dê. Se tiver meias de reserva vá trocando as húmidas pelas secas.
Talvez você esteja a estranhar não termos mencionado um aspecto muito importante que nenhum montanheiro descuraria: o peso.
As botas ideais, de acordo com o mencionado acima, não podem ser as mais leves. Pelo que lhe expusemos, é preferível aceitar um maior peso nos pés para termos a garantia de que o conforto, a segurança na marcha, a protecção dos tornozelos e tudo o mais que mencionámos, serão maiores. Por isso deixámos este aspecto para o fim e o referimos como meramente secundário.