Vietname: Da Baía Halong ao Rio do Perfume – Margarida Rodrigues
Contar como se chega ao Vietname é fácil, vai-se pelas Rotas do Vento e a coisa corre bem.
Contar depois o que nos dá esta viagem, ou o que nos dá a gente do Vietname e os seus campos de arroz já não é tão fácil, mas a vontade é muita.
Hanoi é uma cidade mágica. Se depois de um espetáculo de marionetas na água, encontrar o lago cheio de balões e luzes e se os saltimbancos encherem a praça e se ainda por cima tropeçar no Clube de Jazz, então perde-se para sempre em Hanoi.
De dia Hanoi vive-se em cima de uma bicicleta daquelas com cestinho à frente (dos anos 40?). Desliza-se pelas ruas com a facilidade que os muitos ciclistas e motociclistas nos oferecem entre sorrisos. A elegância com que se deslocam as senhoras nas suas luvas longas, o silêncio a harmonia com que se transportam muitas duzias de ovos, não parece ser verdade… a Asia não é toda assim…
Reina em Hanoi e depois por todos os lados qualquer coisa de intimidade, de felicidade, de elegância que faz brilhar olhos.
Ao principio, passam as imagens da guerra dos filmes todos, depois tudo se esquece e só ficam os pirilampos, o barulho dos arrozais ao fim da tarde, as cascatas e o verde da água abundante, as selvas cheias de sons misteriosos, os galos que cantam sempre com razão as horas certas, as danças dos veus, as canções e os risos, as excelentes refeições agarradas até á boca com pauzinhos.
E as pessoas daquela terra brilhante de lua, gente de carinho e arroz, gente de silêncio e sorriso, gente de paz e coisas de dificil adivinhação. Gente que lê carrega arvores e faz chão de bambu e arranja galinhas à luz da tocha. Gente que sobreviveu aos pesadelos das várias guerras, que ganhou as guerras, gente do tio Hô, gente de estatura franzina e muita força.
Estar perto da Cochinchina, quase nos obriga a perder os referenciais, mais do que a liberdade, ganham-se asas. Entre bandeiras vermelhas, caixinhas de música, fotografias do Marx, Lenine e Hô Chi Minh, altares de budas, gatos memórias da guerra, a seleção portuguesa de futebol, cachimbos de água, patos e mais patos, baguetes de pão, bebés ao colo do pai, e no meio de 6 portugueses que nunca antes tinha visto, com um guia vietnamita e dono de uma lâmpada, o Hai. Uma cozinheira vietnamita que cantava “quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga”, só se podem passar momentos de pura emoção.
Estou pois em condições de dizer que vale a pena arriscar as Rotas do Vento.
Margarida Rodrigues
02.11.00