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Rotas do Vento

Marrocos: Grande Raide no Sul – Anabela Mendes

Volto sempre à perceção do espaço. Aberto e exposto em contraste, entre altitude e planura, descarnado até à ossatura da pedra que nos recebe coberta de ocre, magenta-quente, verde seco e cinza escuro. Granito muitas vezes a querer dizer que já conhecera outros tempos em que as águas oceânicas o bordejavam como o confirmam inúmeros fosseis encontrados a pontapé pelas estradas e trilhos atravessados. Luz natural plena. Céu sem nuvens. Assim se me revelaram as montanhas do atlas.
Nelas existem espécies vegetais esparsas que corroboram a secura do lugar mas que pela sua escassez contribuem para que as olhemos em pormenor. E é nessa atenção particular que descobrimos a resistência que as forma e as mantém como sobreviventes e testemunhas de uma aridez a perder de vista só intercetada por casario integrado e que emerge de vez em quando na paisagem. Estes casarios repetem a cor da paisagem nas tonalidades de magenta quente, dispostos em escadaria nas faldas das montanhas, a elas se ajustando em inclinação e altitude.

Com elas se confundem e, por isso, podem passar despercebidos a um olhar menos atento. Terá sido essa a estratégia milenar para arredar de pequenos povoados indesejados forasteiros ou inimigos tribais?
Ao fascínio das montanhas sucedeu-se outra paisagem, anunciada aqui e ali no percurso realizado, e que conduzia ao deserto do Saara. Esse processo de transição foi sendo cada vez mais evidente na passagem de formações rochosas a território alti-plano e por fim levando a extensas elevações arenosas que, tal como a paisagem anterior, se avistavam na maior lonjura. Curiosa é a ideia de que o que foi sendo avistado, tanto na região montanhosa como na zona desértica parecia contrariar a perceção que temos do território marroquino em mapas quando comparado, por exemplo, com a Argélia.
Nada me desagradou. Devo confessar que as minhas espectativas para esta viagem corresponderam ao que de facto aconteceu e que em muitas situações foi completamente superado.
Hamou, o nosso guia, fazia questão de abrir em cima do 4×4 o mapa que trazia e de nos elucidar sobre o percurso seguinte.
As nossas perguntas eram prontamente esclarecidas e chegavam até a tornar-se em lições sobre cultura árabe, berbere e nómada. Falámos sobre política, história do país, religião, costumes e tradições. Manufatura de têxteis, botânica, mineralogia, geologia.
Em nenhuma viagem da Rotas do Vento até agora houve tanta sintonia entre o guia e nós, as viajantes. Julgo que a minha companheira de viagem e amiga partilha a mesma opinião.
Hamou foi discreto, gentil, atento e por natureza paciente. Nada tinha de acontecer a correr ou com formalidades. Em boa verdade fomos ótimos companheiros, incluindo o seu jovem sobrinho.
Não senti necessidade de quaisquer informações para além daquelas que recebi e também das que reuni em consulta antes da partida. Aliás, devo dizer que pela primeira vez em viagem com a Rotas do Vento tive oportunidade de fazer sugestões de alteração ao que estava estabelecido.
Essas alterações aconteceram durante a travessia do alto-atlas para o anti-Atlas e no deserto do Saara. Elas estiveram relacionadas com alojamento alternativo e também com a vontade de aproveitar a semana em direto contacto com a natureza. Limitámos as mil kashbahs a duas ou três e assim tivemos mais tempo para o silêncio do ar e da paisagem.
No primeiro caso pedi ao motorista / guia /cozinheiro, o Hamou, que nos albergasse em casa da sua família de origem berbere. Tal aconteceu ao 4º dia de viagem, depois de longa e penosa travessia de desfiladeiros que durou horas para uma modesta distância de 40 km. Ficámos numa aldeia, julgo que seria Imlil, em casa da mãe do guia, onde também viviam filhos, noras e netos. Ficámos bem instaladas e presenteadas com um belo jantar.
A minha companheira de viagem fazia 43 anos nesse dia e teve um bolo de aniversário como nunca antes recebera. Tratava-se de uma bandeja com quarenta bolinhos secos da região e três velas. A esse jantar estiveram presentes o guia e um seu sobrinho adolescente, o Mohamed . A receção familiar aconteceu na manhã seguinte após o pequeno-almoço, antes da partida para mais uma etapa já em direcção ao deserto. Tivemos ocasião de cumprimentar a mãe de Hamou e as suas duas noras, uma delas fôra a cozinheira do jantar da noite anterior. Juntaram-se ainda na despedida seis crianças e adolescentes. Distribuí rebuçados ricola aos pequenos.
Comovi-me com um singelo gesto da mãe de Hamou. Foi ela a primeira pessoa a aparecer no pátio interior da casa. Distinta nas roupas e no porte, estendeu-me a mão que apertei entre as minhas. De seguida chamou a atenção para o meu corte de cabelo bem curto e branco. Elevou entretanto a sua mão direita em direção ao lenço-manto que lhe cobria a cabeça. Eu sabia que ela enviuvara há dois anos, segundo conversa com Hamou. Não fiz perguntas nem quis nenhuma tradução. A associação que a mãe do nosso guia fez entre ela e mim sobre o cabelo curto que nos unia tinha toda a razão de ser. Na partida abracei-a de forma espontânea. Ela deixou que assim fosse. Mohamed juntou-se a nós em viagem. Estava de férias de aulas e não conhecia o deserto.
A alteração seguinte aconteceu nas dormidas no deserto. Pedi ao Hamou para fazermos campismo selvagem. Não me apetecia ter por companheiros no espaço de descanso motards ou turistas mochileiros. Hamou acedeu e foi assim que dormimos duas noites em espaço escolhido por nós, onde ele e Mohamed montaram as nossas tendas. Preocupado com a nossa higiene, Hamou aquecia água em chaleirinha para o chá para que nos lavássemos a prestações. A água que connosco transportávamos tinha sido por nós colhida em poços ao longo do percurso.
No fim da viagem já estava um pouco cansada de tagine e couscous, no entanto, a excelente fruta fresca e seca, as azeitonas divinas que nos eram sempre servidas ultrapassaram essa monotonia.
Destaco as noites estreladas no deserto. Depois de apagada a fogueira que nos aquecia após o jantar e alimentava o nosso convívio cada um recolhia-se. Penso que terei ficado muito tempo em cada uma das noites a contemplar o céu. Apercebi-me com mais consciência do que verdadeiramente acontecera quando cheguei a lisboa e senti a falta do diálogo sem palavras que travei com o deserto. Estive em vários desertos do planeta e nenhum foi recebido de modo tão simples e íntimo. Trazia às costas o peso e a espessura das dunas mais o céu nocturno como nunca vira nenhum. As estrelas, dada a proximidade com o equador, eram gigantes a olho nu e a limpidez do ar contribuía para esse cenário natural de deslumbramento. As constelações arrumavam-se como sempre se haviam mostrado ao longo dos tempos. Tudo tão duro, tão belo e tão
Transcendente.
Não houve qualquer queixa. Quando conhecemos os nossos limites tudo se torna muito mais fácil. Demos alguns passeios a pé em andamento calmo e sempre em grande conversa.
Não sei se me apetece falar de exotismo. Não consigo ver as coisas por esse
Prisma. Excluindo os ocidentais com os quais me cruzei em Marraquexe, Ouarzazate e outros lugares urbanos, e que não me despertaram qualquer interesse particular, concentrei a minha capacidade de observação nos autóctones. E autóctones são os marroquinos de baixa altitude, os berberes, marroquinos de altitude elevada, e os nómadas que fazem transumância. Hamou levou-nos a conhecer uma família de nómadas, daquelas que se espalhavam pela montanha e que casualmente encontrámos. Passámos com essa família uma boa parte de uma tarde. O patriarca aconchegado em grandes almofadões insistiu connosco para que tomássemos um copo de chá, enquanto a sua velha mulher tecia no tear uma pequena manta. A minha companheira de viagem ficou encantada com esse encontro e travou conversação gestual com a mulher sobre tintagem e tecelagem. Eu passeei-me pelo lugar e ao longe descobri através do olhar uma gruta onde a família alargada pernoitava. À saída dessa gruta estavam mulheres e crianças ocupadas com tarefas domésticas. Percebi que esse modo de viver quase pré-histórico não era apenas característico de trogloditas, mas que no séc. XXI (o que quer que isso queira dizer) se mantinha vivo através de famílias de nómadas que atravessavam as montanhas do atlas subindo e descendo em busca de pastagens para o seu gado.
Uma viagem a três, e depois a quatro, feita num país muçulmano de cultura milenar teve a particularidade de ter acontecido de uma forma simples e natural. Não houve qualquer necessidade de criar protocolos ou de os invocar. A compreensão de que a minha companheira de viagem e eu estávamos ali para em repouso, ou algumas vezes em esforço, desfrutarmos do que não conhecíamos ainda foi imediata. Hamou teve essa compreensão e foi um guia inesquecível.
Tudo correu bem mesmo quando tivemos de dar a volta à cidade de Marraquexe por causa de uma maratona. Aproveitámos assim para uma passagem rápida pelos arredores da cidade, sem grandes descobertas.
Ficámos com a sensação de que a arquitectura contemporânea não esquece a tradicional. Deste ponto de vista a harmonia reina em todos os lugares. A chamada para as orações é um acto musical muito curioso a que estive sempre atenta. De cada mesquita vem uma tonalidade que se cruza com outras espalhadas em bairros afins numa coralidade de vozes masculinas. Os fiéis não parecem já muito atentos a esta partitura natural que lhes está instilada na cultura religiosa. O chamamento multiplica-se em horas certas, o que quer dizer que a cidade, a aldeia, o lugarejo canta com regularidade a voz do senhor.
Usámos tendas e colchões muito limpos. Apetrechos vários acompanharam-nos para as refeições no deserto. Fomos às compras sempre juntos. Hamou primou na refeição servida em casa dos seus familiares. Os mercados fora de portas, em aldeias, eram um mundo de cor e cheiro. Qualquer fotografia estragaria o ambiente. Fazer uma ou outra compra para lá do contexto alimentício requeria o uso do verdadeiro sentido da palavra negócio. Negociar é ter tempo e espírito para que ambas as partes saiam satisfeitas. Conhecidas as regras da performance, basta que o interesse em vender e o interesse em comprar tenham equivalência.
Sorrir ajuda e há uma gestualidade própria que torna ainda mais consistente o que junta o comprador e o vendedor. Às vezes vem um copo de chá e a conversa prolonga-se para lá do objectivo inicial.
O equipamento desdobrou-se em outras memórias que trouxeram algumas experiências dos mercados e lojas da medina de Marraquexe.
Não chegámos a tempo de vivenciarmos uma tempestade de areia (parecem que ocorrem em abril e maio) e os nevões no atlas aconteceram sempre depois de nós termos passado pelos lugares anteriormente previstos. Foi de longe que nos apercebemos dos picos embranquecidos que fotografámos para memória futura.
Total segurança sem quaisquer receios.
Esta é uma paisagem que na altura do ano em que viajámos terá pouco apelo para o turismo em geral. Desconheço se há desportos de inverno que possam ter interessados. Os turistas com os quais me cruzei, em pequenos bandos, estavam verdadeiramente extasiados com o exótico.
Esta é uma paisagem contrastante (montanha | deserto), inóspita e bela pelo descarnamento exposto, só na aparência repetida e que desperta o que de mais genuíno há nem nós. Descentramo-nos do nosso viver comezinho para sermos absorvidos pela natureza que nos empolga e enche.
Os palmeirais aparecem de vez em quando e são vastos. Perdem-se no horizonte e representam a presença de água já de si tão escassa. Em território tão árido e escarpado é natural que o nosso guia se regozije com a contemplação de tais exemplares botânicos. Tudo o mais se resume a arbustos e espécimens de pequeno porte. No entanto é curioso olhar para líquenes e plantas mínimas que rebentam por todo o lado entre pedregulhos e pedrinhas. Uma das descobertas da nossa viagem foi uma planta venenosa, carnuda que se torce e retorce na vastidão do deserto.
Hamou repetiu várias vezes que os animais da região (burros, cabras, dromedários) sabem que ali não colhem alimento. Essa sabedoria terá passado de geração em geração salvando hoje aqueles que em tempos imemoriais foram incautos.

Um dos prazeres para a vista e o ouvido vem dos inúmeros rios que nesta época do ano vão cheios com o degelo das montanhas e que nos acompanham ao longo das curvas e contracurvas do percurso, quer estejamos a 3.800 metros ou na rasante do caudal.
Não me servi do fato de banho que levei.
A região visitada não é farta em variedade animal. Algumas águias, pequenos pássaros, cabras, burros selvagens, alguns poucos domesticados, dromedários em número restrito. Acredito que haverá outros animais. Répteis, tarântulas, escorpiões. Na noite do deserto passou por mim uma raposa solitária.
A diversidade descobre-se no traje já que o linguajar nos está vedado. Quantos adereços de cabeça! Quanto colorido nas vestes! O branco como sinal de que o seu portador tem ligação religiosa. O negro do luto e da discrição pesa sobre algumas mulheres que nos olham apenas. O rosto velado tem significado próprio.
As línguas que não falamos nem reconhecemos e que gostariamos de saber são aquelas que nos proporcionariam os relatos de histórias que então fluiriam e não ficariam por interpretar.
As grandes famílias que se deslocam em bandos, numa união secular que está muito acima de qualquer conflitualidade, atravessam-se nos nossos caminhos. Cada homem tem direito a quatro mulheres desde que as possa sustentar. As mulheres estão resguardadas dessa turbulência. Será avisado? O que é ser igual ou não igual?
O rei Maomé VI acompanha-nos ao longo da viagem em mercados, átrios de estalagens, postos de gasolina. Ouvimos dizer que ele é um bom rei.
Negoceia e exerce o a sua influência diplomática, desde que tomou o lugar do falecido pai, por toda a áfrica. Os seus palácios, vários, são deslumbrantes. Costuma ir à caça nas montanhas e nessas ocasiões comporta-se como qualquer caçador atento às presas. Numa coutada há veados mandados aí colocar para deleite de Maomé VI, dos seus convidados e amigos.
A natureza está mais do que conservada. É ela que se impõe aos humanos e faz deles seus aprendizes na arte de bem sobrevier. Os muçulmanos são gente asseada. Têm disponibilidade para a contemplação e o que contemplam e amam é o seu país. Em Marrocos a pré-história, a idade média convivem bem com a contemporaneidade.
Talvez por esta visita ter acontecido em época baixa foi possível descansar, mesmo quando os trambulhões dentro do 4×4 eram frequentes. A pureza do ar, as mudanças constantes de altitude (entre 3.800 m e 700 m) nunca nos desviaram de uma direcção traçada e que apreciávamos a nosso belo prazer. Sentámo-nos muitas vezes no chão e ali ficávamos entregues aos serenos dias que foram a conta certa para este itinerário. A natureza cuidou de nós com a generosidade de uma mãe.
Os nove dias foram a exacta medida para o apreço da viagem. A travessia do centro de Marrocos para sul e retorno a Marraquexe, ainda que com paisagem plasticamente diversa, aconteceu de modo bem estruturado. Tivemos sempre tempo de observar o que à nossa volta ia acontecendo e que tinha lugar em aldeias e pequenos povoados, campo fora – o quotidiano de pessoas que se entregam às suas tarefas diárias, às suas brincadeiras pueris, à repetição do labor do tempo. Foi isso que nos tocou.
Este tipo de viagem, tal como aconteceu, é uma viagem de distância em que o viajante se envolve moderadamente naquilo que são as suas vivências. Limitada às línguas ocidentais (francês e inglês) a convivialidade aberta nunca alcança a intensa troca com todos.
Se pensarmos na posição dos autóctones que é exactamente a mesma que a nossa, só que do outro lado de uma fronteira que os alerta também para o facto de nós sermos mulheres, chegamos à conclusão de que a intermediação do tradutor é sempre uma ajuda mas não se pode substituir à espontaneidade da comunicação. Por outro lado, estamos a falar de duas culturas distintas e duas mulheres culturalmente diferenciadas, ainda que possamos sempre invocar a presença árabe na cultura portuguesa, embora neste caso esse facto tenha pouco significado.
Presumo que a sensação de enfrentamento de ambas as partes não seja idêntica e se manifeste em graus diversos de estranheza. Que sentido teria eu aproximar-me de uma lavadeira de rio e perguntar-lhe por gestos se o dia lhe estava a correr bem? Com que espanto e horror uma jovem mulher que penteava os longos cabelos junto às águas de outro rio não reagiria se se apercebesse de que eu a estaria a fotografar de muito longe? Ou o que aconteceria ao homem montado em cima de um burro que seguia ligeiro junto à margem pedregosa desse mesmo rio, se o interpelasse só para ver como reagia?
Faço aqui um pequeno reparo ao hotel La Vallée em Ouarzazate , no qual tomámos um banho matinal de água fria. Talvez tenha havido falta de comunicação. Eramos as únicas clientes do hotel. O jantar na noite anterior, servido com correcção, deu-nos também essa ideia de abandono do lugar. Um gigantesco salão de festas foi aquecido na hora para duas pessoas: nós. Nada de grave. Apenas a menção de que estivemos sempre atentas a tudo.
Como ficou registado esta saída breve de inverno trouxe-me alguma paz e alegria.
Nunca imaginei que passados 40 anos o regresso a Marrocos pudesse ser tão intenso e suscitasse tanto a minha atenção. Em 1977, a opção foi a costa atlântica até Rabat e uma pequena incursão pelo interior. Do que me lembro da altura, as populações não mudaram muito no seu viver, ou eu não me consegui aperceber disso. É certo que nas ruas de Marraquexe e Ouarzazate se percebe que em muitas das famílias que por aí circulam há traços de emigração e aculturação, em particular no que diz respeito a frança, mas também em outros países europeus. As distintas opções de vestuários, sobretudo entre as mulheres, identificam as diferentes gerações. Esta democratização do vestir já antes me tinha atraído, se bem que as modas de então fossem outras.
Apesar de agora ter começado a viagem do centro do país para sul, o que significa ir mais ao encontro de uma ruralidade integrada e não tanto de modos e hábitos urbanos, constatei que em relação às cidades é nos comportamentos das pessoas que se faz sentir a influência de progressiva contemporaneidade: comem gelados, ocidentalizam-se na roupa que escolhem para vestir, usam as máquinas automáticas para levantar dinheiro, o que lhes evita uma ida ao banco. Neste caso de apreciação de comportamentos, Marraquexe é ainda uma cidade medieval e preservada, embora a nova parte urbana contemple todo um conjunto de infra-estruturas de modernização que existem para a população em geral (os jardins e os seus pic-nics, as superfícies comerciais, as largas ruas, até o novo aeroporto como um arrojo arquitectónico) e, em particular, para as camadas mais desafogadas economicamente (os apartamentos para venda e arrendamento, muitos deles habitados e em condomínio fechado). A nova parte da cidade respeita a arquitectura mais antiga na cor e nos edifícios de poucos andares. A invasão de arranha-céus que encontramos em muitos lugares de áfrica não existe aqui.
Já Ouarzazate é uma cidade praticamente nova, sem uma história muito visível, a não ser a presença da colonização francesa e a sua ideia de entreposto militar que caracterizou este espaço no séc XX. Posteriormente chegou a indústria cinematográfica, sobretudo americana, que contribuiu para uma certa descaracterização da malha urbana ao mesmo tempo que dava trabalho à população. Entre vantagens e desvantagens cresceu a Ouarzazate encravada entre montanhas e vales.
Sem dúvida que esta foi uma pequena grande viagem que, estando à minha espera há 40 anos, aconteceu num clima de fraterna troca e aprendizagem.

Anabela Mendes, Fev 2017