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Rotas do Vento

Aventura na Floresta Boreal, Canadá – Anabela G

A minha parte preferida da viagem, foi o tempo que passei na zona do rio Mistassini, Lac des Cygnes, Chute Blanche, devo confessar que o Canadá me pareceu um país encantado!
É a natureza no seu estado mais belo e selvagem! Durante esses dias passávamos horas a fios sem nos depararmos com quaisquer vestígios da presença humana, a descer rios cuja água bebíamos diretamente (e era excelente!), no seio da floresta boreal tipicamente constituída por árvores magníficas, que eu só havia visto no cinema; a fauna local aproximava-se de nós com a maior curiosidade e ausência de medo, por exemplo, se esticássemos um braço com um pedaço de pão na mão, ao fim de 1-2 minutos éramos “abordados” por pequenas aves que saíam doas árvores e nos pousavam na mão para comer o pão; se nos sentássemos imóveis no chão a admirar a paisagem durante alguns minutos, começavam a surgir pequenos esquilos de diferentes espécies que saltitavam passando a poucos centímetros de nós, chegando mesmo a vir comer à mão! Por todo o lado era a beleza, tranquilidade, o silêncio! Nem os aviões cruzavam aqueles céus!

Ao anoitecer era fantástico estarmos sentados à volta de uma fogueira, ouvindo o piar longínquo de uma águia ou o uivo solitário dum coiote. Durante a noite frequentemente ouvi o restolhar (nada longínquo) na vegetação cerrada, a escassos metros das nossas tendas, provocado pelas deambulações noturnas de um qualquer animal de médio/grande porte que, a coberto da noite, se aproximava da água, como lhe era habitual, e se deparava com uns estranhos objetos “plantados” no seu caminho, que eram as nossas tendas de nylon! Aí a nossa imaginação voava!

Igualmente emocionante era o amanhecer, que ocorria entre as 04h30 e as 05h00, altura em que eu aproveitava para sair da tenda munida da minha máquina fotográfica, com o acampamento ainda silencioso e adormecido, vagueava por um cenário de sonho de floresta ainda orvalhada, com as águas cobertas de brumas, através das quais cheguei a avistar veados pastando tranquilamente na margem oposta.

Nas margens do Lac des Cygnes, ao entardecer no primeiro dia que lá passámos, à cautela, inquirimos o nosso guia sobre a existência de ursos ou lobos nas imediações, ao que ele nos tranquilizou dizendo que tal fauna não se aproximava do local onde nos encontrávamos; montámos as nossas tendas deitando um ocasional olhar nervoso/divertido às moitas cerradas que nos rodeavam (carregadas de mirtilos maduros). Na madrugada seguinte, aquando do meu passeio pelas “brumas”, deparei com um dejeto de apreciáveis dimensões, repleto de bagas de mirtilo parcialmente digeridas, a uns escassos 40-50 metros das nossas tendas; suspeitei a “quem” pertencia, tendo-me apressado a fotografá-lo. De volta ao acampamento, perguntei ao nosso guia a que animal pertencia tal “vestígio”, ao que ele me respondeu, muito naturalmente: “- A um urso!”. Apressou-se, no entanto, a assegurar-nos que não constituíam qualquer perigo para nós; recomendou-nos igualmente que, durante as nossas ausências, não deixássemos géneros alimentares fora do local reservado para os guardar, já que era frequente os ursos aproveitarem as ausências das pessoas, para assaltar os acampamentos, chegando a destruir paredes de madeira de certas cabanas, para chegarem ao seu interior…mas sempre na ausência dos proprietários!

Em relação a passaportes, bilhetes de avião, telemóveis, dinheiro, etc., esses podiam ficar por ali em qualquer lado, já que dada a inexistência de pessoas, os únicos ladrões com que tínhamos de nos preocupar eram mesmo os ursos e esses não têm grande interesse por telemóveis e dinheiro!

Apesar de o “turismo de cidade” não ser o meu preferido, quero realçar os aspetos agradáveis da visita às cidades de Montréal e Québec. Em ambas as cidades houve logo algo que me chamou a atenção: a ausência de lixo na rua! Ambas as cidades estavam cheias de gente nas ruas, muitas pessoas passeavam os seus cães, mas…não havia uma beata no chão, não havia um papelinho no chão ou nos relvados (abundantes nas cidades, onde pulavam…esquilos), nem sequer um cocó de cão! Não existiam grafitti nas paredes! Nos restaurantes não havia um cigarro aceso! Nas ruas de Québec, onde os turistas se passeiam em charretes puxadas por cavalos, não existe cocó de cavalo no chão! A isto eu chamo CIVISMO! Por todo o lado, no mais pequenos pormenores, havia manifestações de civismo, educação, simpatia, disponibilidade para ajudar…em suma, gostei da população canadiana com quem tive oportunidade de contactar (além disso, informaram-me à posteriori, que os canadianos em termos de honestidade, num ranking internacional, ficaram em 1º lugar!).

Outro aspeto interessante que encontrei nestas duas cidades é que apesar de, sobretudo em Montréal, existirem grandes edifícios (quase arranha-céus) as cidades mantêm-se bonitas e harmoniosas, coexistindo edifícios modernos e de grandes dimensões, com casas antigas cheias de beleza e alma! As flores, essas existem em todos os cantinhos, parapeitos e becos, em canteiros primorosamente cuidados.

Outro aspeto muito curioso é que as charretes têm prioridade sobre os automóveis, prioridade esta que é escrupulosamente respeitada e nem se ouvem buzinadelas!

Para finalizar os meus comentários em relação ao “turismo de cidade”, foi por puro acaso que deparei com uma verdadeira maravilha: nos arredores da cidade de Québec, a uns escassos 15-20km do centro da cidade e acessível através de autocarro urbano, existe a magnífica Cascata de Beauport, com uma altura superior às do Niagara, sobre a qual existe uma ponte suspensa, inaugurada em 1853, tendo sido a primeira ponte suspensa a ser construída no Québec, de onde se desfruta de uma vista magnífica sobre a cascata, avistando-se ao longe a cidade de Québec.

Anabela Guerra, Ago 2007