![]() 1. Um resumo fotográfico de um passeio pelo Sahara TEM que começar nas dunas. Ao contrário do que eu pensava, a maior parte do tempo não estivemos a caminhar sobre a areia, mas sim sobre um deserto de pedra e cascalho. Apenas no fim do segundo dia de caminhada é que chegámos ao que eu considero ser o ponto alto do passeio: depois dos normais 20 e ![]() A areia é muito fina o que faz com que seja MUITO agradável e cansativo caminhar sobre ela. Por outro lado, parece ter o tamanho certo para estragar - fina o suficiente para entrar em TODO o lado e grossa o suficiente para dar cabo de roscas, motores - basicamente tudo o que tenha superfícies de contacto deslizantes. 2. Devido à ausência de luz artificial, o nascer do sol é particularmente bonito de ser visto no deserto. Sem grandes montanhas a taparem o horizonte, é bastante fácil trepar a uma duna ou monte e captar tudo sem qualquer barreira. A ausência de presença humana a estas horas (é impressionante a quantidade de gente que por vezes se encontra no deserto nas "horas de ponta"!) faz com que se possa ter uma tremenda sensação de descanso e solidão. A presença de nuvens e poeira taparam por vezes o nascer do sol, mas por outro lado forneceram-lhe características sempre diferentes - desde os tons azuis simples do céu claro, passando pelos avermelhados e laranjas das nuvens e acabando no amarelo da poeira levantada pelo vento. Por outro lado os montes e a areia ganhavam um brilho dourado fascinante nestas alturas. ![]() A "eclipse.jpg" foi tirada no dia seguinte a uma tempestade de areia (ainda esteve um pouco de vento no dia da foto). O céu ainda estava carregado de pó e areia o que dava ao céu a cor que se vê na foto. 3. Ao contrário do que muita gente pensa (incluindo eu antes de ir), o deserto não é só areia. Antes de chegar à areia existe um grande espaço constituído por rocha e cascalho. Esta zona pode ser relativamente verdejante em zonas atravessadas por rios. No entanto, mesmo junto da água nunca se chega a abandonar a sensação de desolação e ausência de condições confortáveis para uma permanência prolongada. Mesmo nos oásis basta estender o olhar para lá das árvores para nos lembrarmos que estamos numa pequena ilha de água e verdura num mar de areia, cascalho e rocha. 4. A areia consegue aparecer com uma infinidade de tons diferente ![]() Os desenhos traçados pelo vento, a projecção das sombras, a simples quantidade de areia a estender-se até perder de vista ultrapassaram tudo o que eu estava à espera... É daquelas coisas que é preciso estar lá para perceber... 5. Os dromedários eram as estrelas da festa. Carregavam com tudo o que nós tinhamos e andavam com uma passada confortável sem se queixarem muito. Em geral eram obedientes, mas por vezes mostravam-se maldispostos e nem sempre obedeciam à primeira. Não gostavam lá muito de contacto (festas) e ficavam particularmente irritados (compreensivelmente) quando lhes punham os sacos às costas. Mas regra geral esperavam pacientemente pelas ordens dos condutores. Sempre que eram desamarrados uns dos outros e libertos da carga, as patas da frente eram atadas (dá para ver no "lunch break") para que eles não abusassem da liberdade concedida - sabem como são os camelos: dá-se-lhes um casco e eles querem logo uma pata inteira! 6. As noites são bastante frias (embora não tanto como eu estivesse à espera). Quando o céu não estava nublado dava para ver uma quantidade impressionante de estrelas (é a fotografia que eu tenho mais pena de não poder tirar). A escuridão era impenetrável - posso dizer-vos que as dunas são bastante assutadoras quando não se consegue distinguir o horizonte de qualquer monte de areia - e quem não levasse uma lanterna arriscava-se a não encontrar a tenda que estava a 5 metros. Sempre que o tempo permitiu (e quando havia m ![]() 7. Todos os dias eram dias de desmontar o acampamento de manhã e montar à noite. Tudo o que usávamos ia conosco e tinha que ser montado ao fim do dia (que em geral tinha à volta de 25Km's). Em geral demorávamos entre 1h30m e 2 horas desde o acordar até o começar a andar. Montar o acampamento parecia demorar menos tempo, mas em geral estávamos cansados e nunca consegui perceber muito bem quanto tempo é que levava ao certo. O tempo de sol que sobrava ao fim do dia era usado para nos deitarmos a admirar a paisagem enquanto comíamos biscoitos com chá, ou para pequenas caminhadas para conhecer as redondezas. 8. Um dos momentos "altos" (pelo menos para alguns de nós – nomeadamente EU) foi quando no 4º dia o vento começou a soprar. A princípio não parecia nada de especial, mas no espaço que demorou a comer o almoço já parecia que a tenda ia voar. O horizonte tornou-se amarelo e a areia voava por todo o lado. Ao contrário dos filmes, tanto os animais como os guias estavam na maior das calmas (embora visivelmente contrariados). O pior de uma tempestade de areia é o facto de a areia entrar no nariz, boca, ouvidos e SOBRETUDO nos olhos. Não vale a pena ter uns óculos com protecção lateral e um turbante a tapar a cara toda - qualquer buraquito na "armadura" vai encher-nos de areia até ao próximo banho. É impre ![]() Caminhámos debaixo do vento durante umas duas horas - mesmo assim, sem praticamente ver o sol, com uma visibilidade MUITO limitada e sem usar qualquer instrumento de orientação os guias conseguiram manter-nos no caminho certo pelo meio das dunas (pelo menos ACHO que era o caminho certo)... 9. Os poços de água parecem ser locais de encontro de pessoas pertencentes a uma comunidade que se encontra muito dispersa - um pouco como a missa ao domingo. Junto aos poços era frequente encontrar-se mais grupos de viajantes como nós ou habitantes locais - estes encontros eram MUITO raros fora dos poços. A água ainda se encontrava relativamente fundo e fiquei a pensar como é que teria sido descoberta... Era barrenta e nunca a usámos para beber - apenas para cozinhar e lavar a louça, no entanto os berberes pareciam beber aquela água sem qualquer problema. O clima em volta do poço é festivo e descontraído - cada um espera pacientemente a sua vez no meio de amena cavaqueira e nem sequer o típico burro a puxar a típica carroça com o típico bidon parece ter pressa de se ir embora. Num sítio onde a água é um bem raro, ela é retirada da terra de uma forma perfeitamente ordeira e comunal. P.S - A princípio fez-me um bocado de confusão ver a forma como a água escorria para a areia durante o enchimento dos jerricans sem que ninguém se preocupasse, mas depois percebi que o poço tinha à volta furos de recaptação da água entornada (para o caso de alguém ter ficado com a mesma dúvida). 9. E para acabar, o inevitável pôr do sol. O pôr do sol atribui "aq ![]() Há quem não goste do deserto - mas para quem gosta, a imagem do sol a enviar o último brilho por cima das dunas é inesquecível. Aproveitei aqui para responder áqueles de vocês que me fizeram perguntas sobre as casas de banho. As instalações não eram muito modernas, mas existiam em número virtualmente ilimitado e estavam extremamente bem integradas no ambiente circundante. Quem quiser ver mais fotos, ver os originais (com mais definição) ou ouvir mais histórias só tem que me oferecer um lauto e suculento repasto! Miguel Barros (texto e fotos), Fev-Mar 2004 Miguel B, Alhandra ![]() | ||